João Carlos Assumpção - 19/12/2012 - 03:17 São Paulo (SP)
O foco agora é o Brasil. A Major League Soccer, liga de futebol profissional dos Estados Unidos, quer aproveitar a Copa do Mundo de 2014 para expandir os laços, divulgar sua marca e crescer no exterior. A MLS prepara uma estratégia para chegar ao mercado brasileiro e ter o campeonato transmitido para o país-sede do Mundial, além de moldar parcerias com clubes nacionais, caso de Atlético-MG, Corinthians, Fluminense, Grêmio, Santos e São Paulo. Vale lembrar que, na última segunda-feira, o New York Red Bulls anunciou a contratação de Juninho, ex-Vasco.
O plano deve ser lançado de 2013 para 2014, comemorando os 20 anos da Copa nos Estados Unidos, vencida pelo Brasil na disputa de pênaltis contra a Itália, quando Roberto Baggio perdeu o seu, deixando o título para a Seleção de Taffarel, Romário, Dunga, Bebeto e Cia.
A ideia da MLS é fazer uma espécie de intercâmbio com clubes brasileiros. Quer incentivá-los a exportar jogadores para os times norte-americanos, enquanto que talentos das categorias sub-15 e sub-17 dos Estados Unidos fariam estágio no Brasil.
Outro projeto é colocar os dois primeiros colocados da Copa do Brasil ou do Campeonato Brasileiro para disputar um torneio nos Estados Unidos com o campeão e o vice da MLS.
Técnicos norte-americanos também seriam incentivados, por meio de um programa da Federação Norte-Americana de Futebol (USSF, sigla em inglês), a passar um período em clubes brasileiros que tenham bons centros de treinamento e sejam conhecidos por formar jogadores, caso do Santos de Neymar.
Com a possível aproximação do futebol brasileiro, a MLS espera conquistar um novo mercado, transmitindo seus jogos para o país, como já acontece com os principais campeonatos europeus, além de atrair mais público para o futebol nos Estados Unidos.
Atualmente a MLS conta com 19 equipes, sendo 9 na Conferência Oeste e 10 na Conferência Leste.
Os clubes jogam entre si, em turno e returno, de março a outubro, com os playoffs de cada conferência acontecendo até o final de novembro, também em jogos de ida e volta. Em jogo único, o campeão do Oeste enfrenta o do Leste, decidindo a MLS Cup.
Os melhores ainda ganham vaga na Liga dos Campeões da Concacaf, que reúne países das Américas Central e do Norte. As quartas de final da edição 2012/2013 da Liga começam em março do ano que vem, tendo três equipes dos EUA classificadas: Los Angeles Galaxy, atual bicampeão da MLS, tendo vencido as edições de 2011 e 2012, Seattle Sounders e Houston Dynamo.
Veja quem são os times:
Conferência Oeste
San Jose Earthquakes
Real Salt Lake
Seattle Sounders FC
Los Angeles Galaxy
Vancouver White Caps FC
FC Dallas
Colorado Rapids
Portland Timbers
Chivas USA
Conferência Leste
Sporting Kansas City
DC United
New York Red Bulls
Chicago Fire
Houston Dynamo
Columbus Crew
Montreal Impact
Philadelphia Union
NE Revolution
Toronto FC
Campeão: LA Galaxy
Torneio contou com 19 brasileiros na última edição
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Nagamura foi o melhor brasileiro da última MLS, segundo a imprensa local (Foto: Jamie Sabau/AFP) |
Segundo o departamento de comunicação da MLS, o torneio de 2012, vencido pelo LA Galaxy, teve a presença de 19 brasileiros, oito dos quais com passagem pelo São Paulo, seja na base ou no profissional.
O que mais destaque ganhou na imprensa local foi o meia Paulinho Nagamura, apelidado de Kamikaze nos Estados Unidos.
O jogador, que é da geração de Kaká, está há sete anos no futebol norte-americano e atualmente defende o Sporting Kansas City. De acordo com o brasileiro, “a torcida cada vez mais comparece (aos estádios) e os Estados Unidos conseguiram formar um público cativo, que não é só de latinos”.
Em 1996, ano do primeiro campeonato da MLS, a média de público da MLS era de 17 mil torcedores por jogo, ainda sob o impacto do Mundial de 1994, que os Estados Unidos receberam em casa. Em 2000, no entanto, ela caiu para 13 mil, o que acendeu o sinal amarelo.
No final da década passada, início da atual, os organizadores adotaram várias medidas, que consideram bem-sucedidas. Entre elas a possibilidade de contratação de estrangeiros com salários acima do teto, que é de cerca de R$ 750 mil por ano, a flexibilização da taxa de franquia para o time participar da liga e uma série de campanhas promocionais, que elevaram a média de público para a casa dos 18 mil por jogo.
Liga | Pagantes |
NFL (futebol americano) | 66.960 |
MLB (beisebol) | 30.352 |
MLS (futebol) | 17.870 |
NBA (basquete) | 17.319 |
NHL (hóquei) | 17.126 |
Liga teve peculiaridades ao longo dos anos
No início do campeonato norte-americano de futebol, a MLS inovou para tentar deixar o esporte mais próximo do gosto do torcedor local. Não deu certo.
O cronômetro começava com 90min e ia “voltando pra trás”, em contagem regressiva, ao contrário do que acontece nos jogos no Brasil, na Europa ou em outros continentes. Adotou também o “shoot-out” para desempatar as partidas, com o jogador partindo a 35 metros do gol e tendo cinco segundos para marcar.
Decidiu modificar o esquema em 1999, já que a audiência vinha em queda, e entre 2000 e 2003 chegou a ensaiar a adoção do “gol de ouro” ou de pênaltis para evitar o empate. A partir de 2004, no entanto, encerrou as experiências e a liga passou a ter as partidas disputadas como no mundo todo.
No primeiro campeonato, em 1996, havia dez times. Dois anos depois, 12. Em 2001 voltou aos dez iniciais, mas a partir de 2004 o número de participantes passou a subir, com a participação, inclusive, de equipes canadenses. Em 2007 houve 15 competidores, entre os quais o Toronto FC. Em 2010 foram 16, no ano seguinte, 18, com o Vancouver Whitecaps, e em 2012, com o Montreal Impact, são 19. O objetivo é aumentar para 20 e estabilizar aí o número de participantes.
Plano para assegurar responsabilidades financeiras
Para competir na liga norte-americana, o time e seu patrocinador devem pagar uma taxa de franquia para a MLS, cujo valor vem variando com o passar do tempo. Antes na casa dos 10 milhões de dólares, chegou à média de 40 milhões de dólares por equipe na temporada 2012.
Os clubes também devem apresentar um plano de responsabilidade financeira que assegurem sua viabilidade e garantam os pagamentos das despesas contraídas durante o campeonato.
É estabelecido ainda um teto para contratações e pagamento de salários, de forma a assegurar certo equilíbrio entre os times.
Três jogadores, no entanto, podem receber mais do que o teto, a fim de garantir maior visibilidade para a liga tanto dentro quanto fora dos Estados Unidos. Foi o caso do Los Angeles Galaxy, que se tornou notícia mundo afora quando contratou David Beckham, ajudando a dar mais força para a liga dentro e fora do país. Com a saída do inglês, os norte-americanos cogitaram a contratação de Kaká, cujo irmão, Digão, defende o New York Red Bulls.
Os clubes devem ter ainda estádio próprio, podendo usar um temporário durante três anos. Mais de metade dos times que disputam a MLS têm estádios exclusivos para a prática de futebol, caso do Red Bulls, com capacidade média para 21 mil torcedores e taxa de ocupação superior a 80%.
Em 2007, a liga ainda patinava, apesar de ter mais de uma década de existência, com prejuízo operacional perto dos 20 milhões de dólares e três em cada quatro times com déficit financeiro. Segundo a MLS, porém, com a inscrição de novas equipes, aumento da média de público e da audiência na ESPN, na Fox e na NBC, entrada de mais patrocinadores e parceiros comerciais, os problemas foram saneados. Hoje todos os clubes e a própria liga têm bom atestado de saúde financeira, apesar da crise mundial que estourou em 2008.
A MLS, num trabalho conjunto com a federação norte-americana de futebol, passou a incentivar ainda mais a prática do esporte nas universidades e a estimular as divisões inferiores.
A US Open Cup, por exemplo, uma espécie de Copa do Brasil dos norte-americanos, reúne equipes de diferentes campeonatos e tem a participação de luxo de times da MLS, que entram no torneio a partir da terceira fase, numa tentativa de unir o alto rendimento ao trabalho de massificação do esporte no país.
O desempenho da seleção dos Estados Unidos, que disputou todas as Copas do Mundo de 1990 pra cá, tendo chegado às quartas de final em 2002, é apontado como outro fator positivo para o crescimento do esporte na América. A meta para o Mundial de 2014, no Brasil, é chegar pelo menos até as quartas de final, no mínimo repetindo a performance na Copa Coreia/Japão.
Cosmos volta, mas não joga na elite
O Cosmos está de volta, embora ainda não na MLS, a divisão de elite do futebol norte-americano.
O time, que está na origem do desenvolvimento da modalidade nos EUA, teve jogadores como Pelé, Cruyff, Beckenbauer e Carlos Alberto Torres nos anos 70, quando disputava a North American Soccer League.
Seu primeiro uniforme foi verde e amarelo, em homenagem à Seleção Brasileira, tricampeão mundial no México. Depois mudou para verde e branco e, em 1984, quando fechou as portas, tinha as cores azul e branca.
Em 2010, a equipe voltaria às atividades, atuando nas divisões de base, mas no ano que vem retorna às competições oficiais, disputando novamente a North American Soccer League, uma prima pobre da liga comandada pela MLS.
A participação na liga principal ainda é um sonho, que tem alguns obstáculos, entre eles a presença do Red Bulls, time que também é de Nova York e já está na MLS. A avaliação é que seria difícil competir com os Bulls pela audiência. Mas como as franquias podem ser compradas e montadas em diferentes estados, não está descartada a ida do Cosmos para outra região, incluindo aí a costa oeste.
