LANCEPRESS! - 12/09/2012 - 08:31
A inércia e a teimosia da CBF, dos clubes e da TV Globo em adaptar o calendário nacional ao dos principais países do mundo do futebol não param de fazer vítimas. A última foi o técnico do Vasco, Cristovão Borges, que decidiu deixar o cargo após a goleada sofrida para o Bahia dentro de São Januário.
Cristovão merecia melhor sorte. Despontou em 2011 em meio a um grave problema de saúde de Ricardo Gomes e por muito pouco não levou o Vasco ao título brasileiro, o que o faria entrar num seleto clube de supercampeões, já que havia conquistado a Copa do Brasil na mesma temporada. Neste ano manteve a qualidade do seu trabalho, até que o elenco do Vasco foi implodido com a abertura do período de contratações dos clubes europeus. Num campeonato equilibado como o Brasileiro, bastam alguns tropeços para a que a equipe veja suas chances de título evaporarem.
O Vasco e seu ex-técnico não foram as primeiras nem serão as últimas vítimas desse calendário equivocado.
Em 2009, depois de conquistar a Copa do Brasil, o Corinthians disputava o Campeonato Brasileiro com reais chances de vencer, quando negociou os jogadores André Santos, Cristian e Douglas, desfazendo sua espinha dorsal e adiando por dois anos a conquista.
A questão não se resume ao período de disputa do Brasileirão. É preciso reduzir o prejuízo que a Seleção causa aos clubes. Não apenas os campeonatos daqui não param quando ela atua, como criaram agora atividades fora das datas Fifa, como esse Superclássico com a Argentina. Como sempre, os clubes, privados de seus ídolos, e os jogadores, expostos a um desnecessário desgate, é que vão pagar a conta. Dessa vez, serão 21 jogadores cedidos para dois jogos que não valem nada. Um absurdo inominável.
O Santos, campeão da Libertadores de 2011, e até meados deste ano considerada a melhor equipe do Brasil, é hoje a maior vítima desse sistema. O clube paga caro por sua competência e ousadia de manter Neymar no Brasil. Com a Seleção atuando sem a parada do Brasileirão, vê o esgotamento do seu principal jogador e, em vez de de estar brigando pelo título, cai pelas tabelas.
Insistir nesse modelo equivocado afeta a todo o nosso fut. Com 14 novas arenas (12 para a Copa, mais o Palestra e a Arena Grêmio), manter os times ao longo da temporada se torna ainda mais importante, visto que é um pressuposto para a venda de carnês de ingressos para a todos os jogos.
Se no meio do campeonato sempre passa um furacão que arranca jogadores, seja os que vão para a Europa, seja os que são convocados a servir a Seleção, torna-se impossível um planejamento competente para o futuro dos clubes. E ao destruir o pouco de bom que existe, a CBF contribui para que dirigentes amadores que se baseiam no improviso e no jeitinho possam continuar sobrevivendo.
Sim. A CBF é a maior responsável. Mas não é a única. A Globo tem sido uma defensora intransigente e silenciosa na manutenção do atual calendário. E os dirigentes têm sempre preferido ficar ao lado da Globo e da CBF do que dos interesses dos torcedores.
